Realizada em Goiânia a 2ª cirurgia do mundo de separação de gêmeas conjugadas com uso de realidade virtual aumentada

A 2ª cirurgia do mundo de separação de gêmeas conjugadas com uso de realidade virtual aumentada foi realizada pela equipe do cirurgião pediátrico, Dr. Zacharias Calil, no último dia 11 de janeiro, no Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad), em Goiânia.

A cirurgia, de alta complexidade, durou mais de 15 horas e envolveu uma equipe de cerca de 60 profissionais, incluindo cirurgia plástica, cirurgia urológica, ortopedia, além de enfermagem e anestesia.

As irmãs Valentina e Heloá eram unidas pelo osso da bacia e compartilhavam vários órgãos. Dr. Calil explica que casos como esse, de gêmeas conjugadas isquiópagas, representam apenas 2% dos siameses:

“A cirurgia foi muito complexa pois são gêmeas isquiópagas, com quatro pernas, unidas por parte do tórax e abdômen. Elas dividiam parte do diafragma, intestinos delgado e grosso, fígado, além da genitália e do osso isquio (osso da bacia). Evacuavam por um único ânus e o ureter de uma entrava na bexiga de outra. Como elas possuíam pele suficiente, nós fizemos os implantes de silicone. No início, nós colocamos três expansores mas elas apresentaram rejeição, então, tivemos que retirar. Depois, colocamos mais quatro expansores, o que deu certo. Elas estão na UTI e uma delas deve ser extubada.”

As meninas são acompanhadas desde o primeiro ano de vida. Em março de 2022, passaram pela cirurgia de colocação dos expansores de pele para que fosse possível realizar a separação.

A familia é natural de Guararema, interior de São Paulo. E se mudou para Goiás em busca do melhor tratamento.

“Nos procuraram pela referência que somos no estado. Eu, como parlamentar, lutei muito pela aquisição desse hospital e para a colocação de equipamentos de ponta. E tem sido um diferencial muito grande conseguir realizar tudo isso dentro de um hospital público. Usamos tecnologias de impressão 3D e Realidade Virtual Aumentada, só assim foi possível fazer toda a simulação para a cirurgia das gêmeas.”

A equipe multidisciplinar contou com o trabalho do cirurgião plástico Dr. Rogério de Souza Hamu, filho do Dr. Calil, que colocou os expansores nas meninas. Além disso, o Dr. Hélio Buson, cirurgião pediátrico especializado em cirurgias urológicas em crianças, veio de Brasília, a convite do Dr. Calil.

“Dr. Zacharias e eu nos conhecemos há décadas. Fomos colegas na Residência Médica em Cirurgia Pediátrica, no Hospital de Base do Distrito Federal, em Brasília. Eu me especializei em Cirurgia Pediátrica Urológica. Por isso, quando o Dr. Zacharias tem um caso de gêmeos conjugados cuja cirurgia vai envolver o aparelho gênito-urinário, ele costuma me convidar para fazer parte da equipe. É sempre um prazer participar nessas cirurgias, verdadeiros desafios cirúrgicos. Me sinto muito contente e honrado quando ele me convida. A cirurgia foi muito boa, conseguimos separar as gêmeas que se mantiveram estáveis durante as mais de 15 horas que durou o procedimento. Claro que complicações podem ocorrer no longo processo de recuperação, que apenas começou. Mas as expectativas são boas”, explica Dr. Hélio Buson.

Também integraram a equipe, a Dra Célia Britto, de Salvador, que é coordenadora do Serviço de Cirurgia Neonatal da Maternidade de Referência José Maria de Magalhães Netto, uma residente do Hospital da Criança das Obras Sociais de Irmã Dulce (Bahia), Dra. Iara Cajado.

Da equipe de ortopedia vale destacar o trabalho realizado pelos Drs. Mário Klein e Ricardo.

“Começamos a cirurgia às 8 horas da manhã e saímos 1 hora da madrugada do dia seguinte. Separamos às 19h38 e depois foi feita a reconstrução. O trabalho em equipe foi considerado um sucesso”, finaliza Dr. Zacharias Calil, que possui 36 anos de experiência em cirurgias de separação de gêmeos. Esta foi a vigésima primeira cirurgia de separação de gêmeos siameses de sua carreira.

Desde que foi inaugurado, em fevereiro de 2021, o Hospital Estadual da Criança e do Adolescente, de Goiânia, está fazendo a diferença para a Pediatria e a Cirurgia Pediátrica de Goiás, por se tratar de um centro de excelência e reunir o que tem de mais moderno em termos de equipamentos.