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6 de junho de 2022fonte: Medscape
Durante a pandemia de covid-19, o ensino a distância cresceu em todo o mundo e a realização de aulas via plataformas virtuais tornou-se uma estratégia importante. Mas, apesar desse avanço, surgiram novos desafios, entre eles, o aumento dos casos de ‘fadiga de Zoom’, quadro caracterizado por exaustão extrema associada à longa exposição a videoconferências. Um estudo realizado com graduandos de medicina de diferentes instituições de ensino do Ceará revela que quase metade dos alunos apresentou fadiga de Zoom[1] durante o início de 2021, porém o problema foi menos prevalente entre aqueles que tiveram aulas baseadas em metodologias ativas de ensino que possibilitavam maior engajamento.
De maio a junho de 2021, pesquisadores do Centro Universitário Christus (Unichristus), do Brasil, e da Harvard T. H. Chan School of Public Health, dos Estados Unidos, avaliaram 541 graduandos de medicina de centros universitários do Ceará. Os alunos tinham em média 23 anos de idade e 68,5% eram mulheres.
Enquanto 14,4% tiveram aulas remotas utilizando o método de ensino e aprendizagem denominado problem based learning (PBL) “puro”, 85,6% foram tiveram aulas em um formato “híbrido”, que mesclava o modelo PBL com o ensino tradicional. Em todos os casos, as aulas foram realizadas de forma virtual.
Segundo o médico Dr. Marcos Kubrusly, doutor em nefrologia, professor da Unichristus e um dos autores da pesquisa, o PBL surgiu na década de 1960 no Canadá e consiste em um tipo de metodologia ativa, na qual o aprendizado se dá a partir da resolução de problemas. “É conduzido com um pequeno grupo e não temos um professor, temos um facilitador que ajuda o aluno na busca autônoma do conhecimento”, explicou em entrevista ao Medscape.
Como o PBL lida com a aprendizagem do adulto, exige certo grau de maturidade por parte dos alunos. Buscando contemplar os estudantes que ainda têm dificuldade nesse aspecto, ou seja, que apresentam maior grau de imaturidade, educadores passaram a adaptar o PBL, mesclando-o com o ensino tradicional, que é baseado na exposição dialogada. A estratégia que une essas duas metodologias de ensino foi chamada pelos pesquisadores de metodologia híbrida.
Na pesquisa em questão, os autores investigaram uma possível associação entre o método de ensino usado e a prevalência de fadiga de Zoom. A partir da análise de questionários respondidos pelos estudantes, com questões da escala Zoom Exhaustion & Fatigue Scale (ZEF) validada para o português do Brasil,[2] os pesquisadores identificaram que 56% dos estudantes que usaram o modelo híbrido apresentaram fadiga de Zoom contra 41% dos alunos que usaram a metodologia PBL “pura”. A prevalência geral de fadiga de Zoom foi de 48%.
Além disso, os autores notaram que os alunos que usaram o modelo híbrido sentiam mais frequentemente o desejo de permanecer sozinhos após a videoconferência (16,9% versus 7,1%) e também mais necessidade de tempo para ficar sozinhos após o encontro on-line (10,2 versus 3,6%) do que os que usaram o modelo PBL “puro”.
De acordo com o Dr. Marcos, a equipe observou que os alunos estavam com uma sobrecarga cognitiva. “Eles relatavam que não conseguiam mais assistir às aulas, que desligavam as câmeras”, pontuou o médico, lembrando que a comunicação humana é, ao mesmo tempo, verbal e não verbal e tem que ser sincronizada, o que exige um esforço grande. No ambiente virtual, essa tarefa se torna ainda mais desafiadora, uma vez que essa sincronia não ocorre naturalmente, as pessoas permanecem paradas, ou seja, há uma escassez de comunicação não verbal, há uma dificuldade para interpretar os gestos e a linguagem corporal dos colegas.
O Dr. Hermano Rocha, médico, Doutor em Saúde Coletiva, pós-doutorando e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), também participou da pesquisa em questão. Em entrevista ao Medscape, ele explicou que a continuação dos estudos tem mostrado que boa parte das dificuldades verificadas no ensino remoto está associada à câmera.
“O fato de estarmos vendo uma pessoa, mas, na realidade, estarmos longe dela, e também a visão permanente do seu próprio rosto na tela, bem como de possíveis pessoas passando no entorno, podem contribuir para deixar as pessoas tímidas”, afirmou, explicando que a questão ainda é nova na literatura médica e tem certa similaridade com o medo de palco. O grupo atualmente está conduzindo mais estudos específicos sobre o efeito da câmera no ensino a distância.
Quanto às diferenças observadas entre os grupos que foram submetidos a metodologias ativas de ensino distintas, o Dr. Marcos explicou que a maior sobrecarga do método híbrido verificada nos alunos ocorreu porque eles tiveram um número maior de videoconferências, que exigiu um tempo de concentração maior e também um intervalo de tempo menor entre os encontros on-line.
O problema, no entanto, não diz respeito ao tipo de metodologia de ensino usado, especificamente, mas sim à falta de motivação associada a algumas abordagens. “Mesmo no modelo tradicional de exposição dialogada, se fizermos o aluno se sentir parte do meio, se ele for motivado, teremos um efeito similar ao do método PBL ‘puro’. O importante é deixar o aluno fazer parte de um ensino interativo, ele tem que fazer parte daquela aula, daquela conferência”, destacou o Dr. Marcos e acrescentou que “a pandemia vai deixar um legado importante para a educação em todo o mundo”.