Nota oficial da CIPE
18 de abril de 2023NOTA TÉCNICA: FREIO LINGUAL
24 de abril de 2023São Paulo, 20 de abril de 2023
No dia 15 de abril foi veiculada notícia a respeito de hipospádias pela coluna Viva Melhor da Folha de São Paulo (https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2023/04/15/ator-diz-ter-micropenis-devido-a-hipospadia-entenda-a-condicao-congenita.htm), que continha alguns erros, importantes pelo potencial de causar pânico ou depressão em pacientes portadores da doença e suas famílias. A Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica (CIPE) vem a público prestar alguns esclarecimentos importantes a respeito desta condição.
Ao contrário do veiculado no artigo da Folha, hipospádia não é uma doença rara: afeta em torno de 0,3% na população, e em alguns países a prevalência é ainda maior. A causa não é conhecida na maioria dos casos, embora um subgrupo minoritário se associe com doenças genéticas e/ou diferenças do desenvolvimento sexual.
A doença apresenta gradações de gravidade: a maioria dos casos (em torno de 80%) se apresenta na forma distal (em que o meato urinário – orifício por onde sai a urina – está próximo ou na glande). Esta forma NÃO está habitualmente associada a micropênis ou disfunção sexual. Em torno de 20% dos pacientes apresentam formas mais graves, que podem se associar a disfunção sexual causada por uma curvatura peniana significativa durante a ereção, o que pode ser completamente corrigido cirurgicamente. Micropênis é incomum entre portadores de hipospádias.
As hipospádias se apresentam com uma constelação de sintomas: questões estéticas ligadas ao desenvolvimento anômalo do prepúcio e questões funcionais ligadas ao desenvolvimento incompleto da uretra (causando micção com direcionamento anormal) e/ou curvatura peniana (mais fácil de perceber durante a ereção). TODOS estes problemas podem ser corrigidos cirurgicamente, com a cura da doença. Cirurgias corretas com resultados adequados conseguem reconstruir um pênis com aspecto normal semelhante a um paciente que foi circuncidado.
Complicações das cirurgias ocorrem em torno de 15% dos casos distais e 40% dos proximais, partindo do princípio, é claro, de que os procedimentos sejam feitos por profissionais adequadamente treinados (cirurgiões pediátricos e urologistas pediátricos treinados em urologia pediátrica ou cirurgia reconstrutora). A grande maioria das complicações são fístulas (falhas de cicatrização do novo canal que prolonga a uretra nativa), que podem ser corrigidas. Alguns casos mais graves, ou pacientes operados usando técnicas operatórias que já foram superadas pelos aperfeiçoamentos recentes (situação, principalmente, de alguns adultos) podem apresentar problemas de correção mais difícil, mas sequelas graves NÃO SÃO A REGRA em pacientes tratados atualmente para correção de hipospádias. Hipospádias distais sem complicações podem ser corrigidas com apenas uma cirurgia.
Consideramos extremamente importante veicular estes argumentos. Afinal, estamos tratando de uma condição que afeta 1 em cada 300 meninos. Afinal, estamos falando de pais que se preocupam com o futuro de seus filhos e meninos e homens que podem sofrer ao adquirir perspectivas erradas a respeito do prognóstico de uma doença que inclui implicações psicossociais.
Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica