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NOTA TÉCNICA: Conceitos em urologia da criança
24 de junho de 2024![](https://cipe.org.br/novo/wp-content/uploads/2019/08/logo_amb.jpg)
Carta aberta das entidades médicas sobre as alterações realizadas ao Decreto 11.999
25 de junho de 2024São Paulo, 21 de junho de 2024.
A Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica (CIPE), em nome de sua missão de informar e educar a população a respeito de doenças cirúrgicas congênitas, cujo tratamento é de atribuição primária dos cirurgiões pediátricos, gostaria de trazer a público algumas informações inspiradas pela reportagem MODELO DESABAFA SOBRE CONDIÇÃO RARA: DUAS VAGINAS E SEM O ÂNUS (UOL, Splash, 21 de junho de 2024), especialmente considerando vários comentários que atestam desinformação clara quanto ao problema.
As anomalias anorretais são um grupo de doenças congênitas relativamente comuns (incidência na população em torno de 1:4000 nascidos vivos). Nelas, malformações de características e níveis de gravidade variáveis afetam a formação do ânus e, frequentemente, dos órgãos vizinhos, desde alterações de pequena monta até a ausência do ânus com comunicações anormais entre a porção final do intestino e os órgãos genitais ou urinários.
São doenças que afetam de forma diferente pessoas do sexo masculino e feminino, por causa das características anatômicas diferentes da região, e que podem estar associadas a outras malformações como, por exemplo, o complexo de malformações embrionárias VACTERL, como parece ser o caso da personagem central da reportagem.
Nos meninos a forma mais comum de malformação anorretal é uma fístula (comunicação anormal) entre o reto e a uretra. Nas meninas a forma mais comum se apresenta como um posicionamento anormal muito anterior do final do intestino, que fica extremamente próximo à porção terminal da vagina, chamada de vestíbulo vaginal (fístula vestíbulo-vaginal).
A segunda anomalia mais comum em meninas é chamada de cloaca persistente. Nesta forma, aparentemente o problema apresentado na reportagem, os órgãos com saída no períneo (uretra, vagina e reto) confluem para um orifício único. Frequentemente a vagina e o útero, cuja formação embrionária depende parcialmente da diferenciação correta dos órgãos que dependem e interagem para a formação do períneo, se encontram duplicados (neste caso o útero é chamado de útero didelfo): na verdade não é uma duplicação, é a persistência de “duas metades”, já que estes órgãos se fundem e unificam durante o desenvolvimento do embrião.
A correção das anomalias anorretais é extremamente importante, já que influenciará diretamente o futuro do paciente quanto à capacidade de continência para fezes e urina e também quanto ao futuro sexual. São cirurgias extremamente complexas, em especial em crianças pequenas afetadas por outros problemas simultaneamente.
Em muitos casos é necessário estabelecer uma colostomia provisória no período neonatal para depois se fazer a correção programada da anomalia, que costuma ser programada a partir do segundo semestre de vida.
A correção de uma cloaca persistente, em especial, é considerada uma das cirurgias mais complexas, sofisticadas e longas para correção de anomalias anorretais.
O mais importante: o tratamento feito por um cirurgião pediátrico especializado e treinado garante a estes pacientes a melhor qualidade de vida possível, como notamos na modelo que intitula esta reportagem.
Muitas malformações são complexas e desconhecidas, mas tratáveis. É muito importante que a população seja bem informada, para que o nascimento de uma criança com problemas não seja motivo de pânico, mas sim de comemoração de uma nova vida. Apesar de todas as dificuldades os problemas têm solução, e bebês com anomalia anorretal têm todas as chances, bem atendidos, de ter um futuro maravilhoso, como todas as crianças.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIRURGIA PEDIÁTRICA