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19 de junho de 2022fonte: MedScape
Médicos que sofrem maus-tratos e discriminação por parte de pacientes, familiares e visitantes têm maior probabilidade de apresentar sinais e sintomas de burnout, de acordo com um estudo publicado em 19 de maio no periódico JAMA.
Esses comportamentos abusivos foram mais frequentemente direcionados a médicas e a médicos de minorias raciais e étnicas, embora esses profissionais não corressem maior risco de burnout.
A pesquisa transversal foi realizada por pesquisadores da Mayo Clinic, que coletaram dados de 6.512 médicos dos Estados Unidos de 20 de novembro de 2020 a 23 de março de 2021. Para a pesquisa, foram utilizadas perguntas modificadas do Association of American Medical Colleges Graduation Questionnaire. Os médicos relataram a frequência (nunca, uma vez, várias vezes por ano, semanalmente e várias vezes por semana) com que sofreram maus-tratos ou discriminação por parte de pacientes, familiares e visitantes no último ano.
Além disso, os participantes relataram se sofreram agressão física ou se um paciente ou familiar de um paciente recusou atendimento por causa da sua aparência.
Dos entrevistados, 37,6% eram mulheres, 70,5% eram brancos não hispânicos, 13,3% eram asiáticos não hispânicos, havaianos nativos ou das ilhas do Pacífico e 7,2% eram hispânicos.
Várias especialidades foram representadas, e a maioria (56,9%) dos entrevistados trabalhava em consultório particular. Médicos de especialidades com menos contato direto com o paciente, como patologia ou radiologia, apresentaram menor risco de maus-tratos e burnout do que aqueles de especialidades com contato mais direto com o paciente, como medicina de emergência.
Quase um terço (29,4%) dos médicos relatou ter sido vítima de comentários racistas ou etnicamente ofensivos. Um número semelhante (28,7%) foi vítima de comentários machistas ofensivos. Mais de um quinto (20,5%) sofreu investidas sexuais indesejadas e 21,6% relataram que um paciente ou familiar recusou atendimento por causa de atributos pessoais perceptíveis do médico.
À medida que a exposição a essas situações aumentava, também aumentavam os sinais e sintomas de exaustão emocional, despersonalização e burnout. No geral, após o controle de outras variáveis, o risco de burnout aumentou de 27% para 120%.
Como lidar com pacientes abusivos e preconceituosos
Embora o burnout devido a interações com pacientes não tenha sido minuciosamente pesquisado, estudos anteriores descobriram que médicos negros, hispânicos, nativos americanos e estudantes de medicina de minorias sexuais sofrem mais discriminação no local de trabalho. Isso pode afetar negativamente a trajetória de carreira, o bem-estar e o ambiente de trabalho e pode exacerbar a escassez de médicos e as disparidades de saúde.
“O burnout é o resultado de altos níveis crônicos de estresse não mitigado decorrente do ambiente de trabalho”, disse ao Medscape a Dra. Liselotte N. Dyrbye, médica da University of Colorado School of Medicine, nos EUA, que conduziu a pesquisa enquanto estava na Mayo Clinic. “As soluções estão em melhorar o ambiente do consultório e abordar os fatores que causam alto estresse relacionados ao sistema”.
Embora qualquer médico possa sofrer maus-tratos ou discriminação, médicos de grupos minoritários e mulheres são particularmente vulneráveis.
De fato, apenas 22% dos médicos brancos foram vítimas de comentários com motivação racial, em comparação com 55,8% dos médicos negros não hispânicos e 55,4% dos médicos havaianos nativos ou das ilhas do Pacífico. Entre todos os médicos, 15% foram agredidos fisicamente. Aproximadamente um terço (31,8%) dos médicos do sexo masculino não hispânicos de duas ou mais raças referiu ter sido agredido fisicamente – quase o dobro de qualquer outro grupo.
Médicos do sexo feminino sofreram investidas sexuais indesejadas e comentários sexistas ofensivos (29,6% e 51%, respectivamente) em uma proporção muito maior do que os médicos do sexo masculino (15,1% e 15%, respectivamente).
“Os dados destacam que, para melhorar a vida profissional dos médicos de grupos minoritários, precisamos de ambientes de trabalho equitativos e inclusivos”, disse a Dra. Liselotte. “Precisamos de estratégias organizacionais que reduzam a frequência de comportamentos inadequados por pacientes, familiares e visitantes, e maneiras de lidar efetivamente com esses comportamentos quando ocorrerem, para que possamos promover uma cultura em que todos os médicos possam prosperar”.
Algumas organizações criaram políticas de conduta para pacientes e visitantes, semelhantes a uma que entrou em vigor em 2017 na Mayo Clinic, para ajudar a equipe a identificar comportamentos problemáticos de pacientes, tomar as medidas apropriadas e, se necessário, encerrar o atendimento.
A Dra. Liselotte aconselha os médicos a serem diligentes em relação ao autocuidado. “As formas de reduzir o risco de burnout incluem tomar decisões de carreira que maximizem o senso de significado, valor e propósito em seu trabalho, envolver-se em coaching com profissionais credenciados, trabalhar menos horas, evitar a mentalidade de postergar gratificações, tirar férias e, propositalmente, construir uma rede de apoio social, dedicando tempo para se conectar com familiares, amigos e colegas de trabalho”, detalhou.
JAMA. Publicado on-line em 19 de maio de 2022. Texto completo