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Pesquisas conduzidas no Instituto Nacional de Câncer (Inca) comprovam que vários fatores têm sido identificados como vetores de maior suscetibilidade à infecção por SARS-CoV-2 e do nível de gravidade da doença. Os estudos revelam que pacientes com câncer são mais propensos a evoluir clinicamente para condições mais graves de Covid-19 e também a possibilidade de em um mesmo paciente oncológico coexistirem duas variantes do vírus desde o primeiro contágio, ou seja, a capacidade de múltipla infecção. Os estudos coordenados por pesquisadores do Inca, contaram com o apoio da FAPERJ através de editais de apoio a Ações Emergenciais – Projetos para Combater os Efeitos da Covid-19, lançados em 2020, além de suporte da Fundação Swiss-Bridge (Suíça) e dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos EUA.
O primeiro trabalho, intitulado As análises genômicas de SARS-CoV-2 em pacientes com câncer revelam elevada diversidade genética intra-hospedeiro, publicado pela Revista Vírus Evolution, foi realizado entre abril e maio de 2020, quando foram coletados exames de 57 pacientes com câncer e 14 profissionais de saúde do Instituto (grupo controle, sem câncer), e foram determinadas as sequências genômicas de SARS-CoV-2 por sequenciamento de DNA profundo a fim de investigar a população viral dentro do hospedeiro de cada infecção, quantificando a diversidade genética. Autor sênior do artigo, o geneticista Marcelo Soares, explica que o sistema imunológico fragilizado típico dos pacientes com câncer, seja pela própria doença ou pelo uso de remédios, acaba permitindo que o vírus se multiplique muito mais do que acontece em outros pacientes, propiciando o surgimento de variantes.
“A ocorrência de maior variedade genética do Sars-Cov-2 em pacientes com câncer permite ao vírus explorar mais possibilidades de mutações, podendo culminar com o aparecimento de novas variantes mais transmissíveis ou mais letais”, afirma o pesquisador do Inca. A descoberta ganha relevância justamente nesse momento em que são identificadas novas variantes virais, como a do Reino Unido, da África do Sul e a de Manaus.
No segundo estudo, Distinguindo a reinfecção por SARS CoV-2 genuína da reativação de variante minoritária pré-existente, publicado na revista Infection Genetics and Evolution, foi investigado o caso de uma paciente com câncer que desenvolveu Covid-19 duas vezes em dois eventos clínicos provocados por duas infecções diferentes. Na primeira infecção pelo SARS-CoV-2 já havia uma variante minoritária preexistente, enquanto o vírus principal foi detectado. Essa variante apareceu 102 dias depois da primeira infecção, desta vez como o vírus principal. Nesse resultado, também inédito, os pesquisadores avaliaram que embora pudessem considerar o fato inicialmente como reinfecção, a análise mais minuciosa das variantes minoritárias na paciente mostrou que ela já carregava o vírus majoritário do 2º evento na 1ª coleta. Assim, comprovou-se o caso de co-infecção por dois vírus já no 1º evento, o que ainda não havia sido descrito na literatura. Os pesquisadores temem que a múltipla infecção possa gerar formas recombinantes do vírus (misturando partes dos dois vírus circulantes) mais patogênicas ou de escape imune ou vacinal, que representa um salto evolutivo extremamente significativo em relação à evolução do vírus por mutações pontuais.
“Provavelmente, muitos casos definidos como reinfecção sejam a reativação de uma variante viral pré-existente no indivíduo infectado, inicialmente em baixa frequência, mas que predomina em relação a outras formas do vírus ao longo do tempo, por seleção imune ou escape vacinal, ou por capacidade aumentada de reprodução, explica Marcelo Soares, que também recebe apoio às suas pesquisas por meio do programa Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ.
Especialista em oncoviroses, Marcelo Soares também se dedicou ao estudo do HIV e está entre os 12 pesquisadores em Aids mais citados da América Latina e Caribe, segundo o periódico Science. Em relação aos riscos da vacina para os pacientes com câncer, ele acredita que, em princípio, não haja contraindicação, mas recomenda uma consulta prévia ao médico para esclarecer se pode haver realmente algum problema. Segundo ele, a recomendação existente é para que a vacina não seja aplicada durante os dias em que o paciente estiver tomando remédios contra o câncer com ação imunossupressora. Isso porque a baixa na imunidade pode fazer com a que a eficácia da vacina seja reduzida. Segundo ele, estudos futuros poderão determinar se os doentes de câncer deverão tomar uma terceira dose ou dosagens mais altas de vacina. O pesquisador garante que todas as vacinas disponíveis são seguras, pois nenhuma delas utiliza o vírus atenuado, e sim inativado.