Ministro da Saúde propõe à CPLP políticas públicas para doenças crônicas
26 de março de 2022NOTA TÉCNICA: Sobre injeção escrotal de toxina botulínica
26 de março de 2022fonte: CFM
Não se confirma a expectativa de que as escolas médicas sejam polos em torno dos quais os médicos ali graduados exercerão a profissão. É o que sugere levantamento realizado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). O estudo mostra que, após a conquista do diploma, pelo menos um em cada cinco egressos dos cursos de medicina formados nos últimos três anos optaram por se registrar em uma unidade da federação diferente da que se formaram. De acordo com o levantamento, é o caso de pelo menos 16.249 recém-formados, dos quase 72 mil novos egressos registrados nos Conselhos Regionais de Medicina entre os anos de 2018 e 2021.
“A migração interna de médicos é determinada por questões econômicas, sociais e demográficas, há fatores individuais e profissionais associados à decisão de mudar”, explica Mauro Ribeiro, presidente do CFM. Ele avalia que os achados fragilizam a tese de que a presença de escolas médicas é um fator de fixação de médicos.
Para ele, os números confirmam que a abertura desenfreada de escolas médicas, sobretudo nos anos de 2013 a 2015, não foi capaz de induzir a permanência de médicos nas chamadas regiões de difícil provimento. Ao contrário dos estados do Norte, que perderam profissionais, no Sudeste, houve retenção dos médicos que ali se formam e “atração” dos que concluíram graduação em outras localidades.
Durante os últimos três anos, São Paulo formou 12.812 médicos, mas recebeu 16.773 inscritos, ou seja, atraiu um contingente de quase 4 mil médicos forma[1]dos em outros estados. Por outro lado, Acre, Tocantins e Rondônia perderam mais da metade dos seus egressos.
Probabilidade – A análise mostrou ainda que, além daqueles que sequer se inscrevem onde se formaram, pelo menos outros 3.460 indivíduos (6,2%) transferiram o registro para outra UF antes de completar um ano desde a primeira inscrição. Por meio de uma análise de sobrevivência, ramo da estatística que estuda o tempo de duração esperado até a ocorrência de um ou mais eventos, o CFM calculou a probabilidade de um egresso se mudar após a conclusão do curso de graduação.
Enquanto as chances na Região Norte foram de quase 25%, no Sul e Sudeste foram próximas a 7%. No Centro-Oeste e Nordeste ficaram em 13%.
O Norte se destaca ainda quanto à migração de UF. Em 12 meses, a chance de um egresso de Rondônia sair para outro estado é de 26%. Esse percentual também é alto no Tocantins (21%), Acre (20%), Ama[1]pá (18%) e Roraima (17%). Observa-se com o passar do tempo, que as possibilidades de migração aumentam nestas regiões, aprofundando a desigualdade.
Ao avaliar o fluxo de migração interna dos recém-formados nos últimos três anos, o CFM constatou que mais de 60% dos médicos que se formaram em escolas médicas sediadas no Norte do País nem chegaram a solicitar inscrição nos estados em que se formaram.
É o caso do Acre, onde, dos 240 médicos formados desde 2018, 151 (62,9%) não chegaram a se registrar naquele território. Em Tocantins, outros 787 (56,7%) médicos que ali se formaram neste mesmo período também partiram para outros estados assim que concluíram a graduação. Confira na tabela abaixo dados de outros estados.
“O Brasil ainda sofre com grande desigualdade na distribuição da população médica. Faltam políticas públicas que estimulem a migração e fixação dos médicos nas regiões de difícil provimento”, destaca Júlio Braga, coordenador da Comissão de Ensino Médico do CFM.
Segundo o conselheiro, o persistente fluxo de médicos em direção aos mesmos lugares pode agravar desigualdades e não se resolverá apenas com o aumento do número de profissionais ou a “suposta interiorização por meio da abertura de novas escolas”.
Concentração – Entre janeiro de 2018 e agosto de 2021, quase 72 mil novos egressos se registraram nos CRMs. Os estados que mais formaram médicos foram São Paulo, com 12.812 (17,9%); Minas Gerais, com 10.942 (15,3%); e Rio de Janeiro com 7.893 (11%).
Apesar do volume superior de formandos, São Paulo também se destaca como a unidade da federação que mais recebeu egressos de outras localidades: um total de 5.050 médicos, 40% a mais do que conseguiu formar nos últimos três anos.
Historicamente, avalia Braga, nenhum Governo implementou medidas efetivas que eliminassem estas distorções. “Além de estrutura de trabalho, os recém-formados muitas vezes buscam mais oportunidades para se tornar um especialista, isto é, vagas em Programas de Residência Médica”, disse.
Para ele, entre outros fatores, é essencial a criação de uma carreira de estado para o médico do SUS, que ofereceria ao cidadão a estrutura de atendimento e ao médico as condições de trabalho e os estímulos profissionais tão necessários.