CIPE participa de audiência pública sobre Outubrinho Rosa e Novembrinho Azul
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4 de novembro de 2021A CIPE sempre busca valorizar sua história e ela só é feita por causa dos cirurgiões pediátricos. Um destes chega neste sábado, dia 30 de outubro, aos 99 anos. Estamos falando do Dr. Plínio Campos Nogueira, um dos fundadores da Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica.
“Não há, ó gente, ó não, Luar como esse do sertão”. Esses versos singelos de Luar do Sertão, música de João Pernambuco e uma das canções mais gravadas da história do Brasil, retratam a saudade da vida no campo e serviram como inspiração para o jovem estudante Plínio, de Igarapava, interior de São Paulo, que sonhava em ser Doutor.
Hoje, Dr. Plínio se recorda de sua trajetória na Medicina com saudosismo e orgulho:
“Eu achava muito bonito chamar os outros de ‘Doutor’, e para mim “Dr.” sempre foi médico. Então, eu me encaminhei para estudar Medicina para ter o título. Depois, fiquei sabendo que Doutor era quem defendia tese”, conta rindo no fim.
Dr. Plínio se formou pela Escola Paulista de Medicina, em 19 de dezembro de 1949. Na ocasião, não havia sido instituída ainda a Residência Médica. E relembra, com entusiasmo, dos anos de estudante:
“Eu gostei do curso. Uma coisa maravilhosa. Escolhi a Pediatria por pura empatia, então, pensamos sobre a necessidade de ser uma especialização, pois o médico de adulto tem uma mão enorme (risos) e a criança é pequena. E nem todas as moléstias de adulto são as mesmas de crianças. Fiz muitos colegas, uma turma muito boa. Uma amizade total com a classe. Depois da faculdade, nos reuníamos de quatro em quatro anos. Nunca faltei um encontro desse. Minha esposa, Maria Ângela, gostava muito de ir, e todos levávamos novidades”.
Pensar além sempre foi uma característica do Dr. Plínio, que se tornou um dos pioneiros na especialidade:
“Quando começamos a Cirurgia Infantil, tivemos que buscar materiais pequenos, pois os de adultos eram muito grandes. Depois, vieram exames mais específicos que facilitavam nossos diagnósticos. As crianças, na maioria das vezes, eram recém-nascidos. Então, sempre procurei estar relacionado com os avanços e aprender. Sempre participava de cursos e discussões de casos nas reuniões da Sociedade de Cirurgia Infantil. Nós éramos muito ligados com os médicos de Cirurgia Infantil de vários lugares, até no exterior, que traziam muitas novidades. Basicamente, só tínhamos o Raio-X, mas a melhoria de imagens facilitava os nossos diagnósticos, nesses casos, o diagnóstico rápido muitas vezes salvava vidas”.
Um dos marcos de sua trajetória foi em 1965, quando fez história no Hospital Infantil Darcy Vargas, em São Paulo.
“Em 1965, criamos o primeiro programa de Residência Médica em Cirurgia Pediátrica de São Paulo, no Hospital Infantil Darcy Vargas, junto com Dr. Reis, sob a orientação do professor Virgílio. O programa de Residência é reconhecido atualmente pelo Comitê Nacional de Residência Médica. Vi muitos casos difíceis de serem resolvidos. A primeira urgência que atendi foi uma complicada atresia de esôfago, com interrupção da luz no esôfago, impedindo que o paciente deglutisse saliva. Na ocasião, o Dr. Virgílio estava no exterior e tive a honra de realizar esta cirurgia, que foi um sucesso. Foi o caso mais difícil pois nesta situação de atresia de esôfago, ficava faltando um “pedaço” do órgão. Então, todo médico quando conseguia operar uma atresia, em que a criança saía viva e depois começava a desenvolver tudo, ele se sentia realizado, porque era uma cirurgia maior, mais difícil.”
Dr. Plínio participou, inclusive, do início do funcionamento do hospital, em 1959. Ele conta que, pouco depois de sua inauguração, o hospital foi encampado pela Legião Brasileira de Assistência (LBA), uma instituição filantrópica federal criada, em 1942, por Darcy Vargas, esposa do então presidente Getúlio Vargas. Posteriormente, em sua
homenagem, o hospital adotaria este nome.
“Na época, apesar do hospital estar concluído, as equipes foram se estruturando gradativamente, com o apoio de profissionais com experiência adquirida no Hospital das Clínicas, e o hospital só começou a funcionar em agosto de 1959. Ansiávamos por vê-lo em funcionamento e, assim, o Dr. Manoel Reis Gonçalves Salvador e eu revisamos todo o material cirúrgico montando as caixas de cirurgia”, lembra Dr. Plínio Nogueira, que participou dessa fase inicial e que mais tarde assumiria a chefia do Serviço de Cirurgia Pediátrica.
As negociações dessa transição tiveram à frente o pediatra Dr. Mário Seráphico de Assis Carvalho e um dos pioneiros da Cirurgia Pediátrica no Brasil, o Prof. Virgílio Alves de Carvalho Pinto, então chefe do serviço de Cirurgia Pediátrica. A partir de então, por se caracterizar como hospital filantrópico, a instituição deixou de atender pacientes particulares, assumindo integralmente caráter público.
Nessa época, Dr. Plínio relata que o acesso à instituição era muito difícil, pois não havia ônibus que chegasse até lá:
“Procurávamos insistentemente as autoridades e, com sacrifício, conseguimos uma linha, que saía do Largo da Batata, em Pinheiros, até o hospital.”
Em 1965, por indicação do Dr. Virgílio, passou a chefiar o serviço de Cirurgia Pediátrica, contando com uma pequena equipe, integrada inicialmente pelos Drs. Manoel Reis e Arthur Loguetti Mathias. Aos poucos, novos profissionais, como os Drs. Geraldo Modesto de Medeiros, Shigueki Yano e, na Urologia Pediátrica, Dr. Milton Borreli, foram sendo contratados, de forma a garantir gradual aumento no número de cirurgias.
Naquela época, a Clínica Cirúrgica ocupava, então, um andar inteiro, dos quatro existentes no hospital, contando com 150 leitos ativos, e capacidade para 200.
“No início, tínhamos grandes desafios a vencer, como a inexistência de equipamentos adequados, de médicos de especialidades pediátricas afins e de pessoal técnico especializado. Tínhamos que superar muitas dificuldades: enfermeiras com medo de passar sondas nasogástricas em bebês e problemas para hidratação parenteral, por exemplo, e éramos chamados a qualquer hora para dissecar veias”.
Para ele, o avanço tecnológico da Medicina possibilitou o desenvolvimento da especialidade, de exames mais precisos, de técnicas cirúrgicas e de tratamento mais eficazes. Somado a isso, surgiram equipamentos mais adequados às cirurgias pediátricas, e também aos recém-nascidos, facilitando e tornando mais ágeis tanto os diagnósticos quanto as intervenções, e com isso, poupando muitas vidas.
Em sua longa trajetória no Darcy Vargas, encerrada com sua aposentadoria, em 1991, Dr. Plínio Nogueira foi diretor clínico por duas vezes. Ele fez questão de mencionar o importante papel dos voluntários na vida do hospital e nos sucessos obtidos:
“Sem as voluntárias, sempre atentas, solícitas e presentes, o serviço não seria o que é.”
Dr. Plínio Nogueira foi um dos fundadores da CIPE, em 1964, tendo participado ativamente da maioria das gestões e também na diretoria da, posteriormente criada, Associação de Cirurgia Pediátrica do Estado de São Paulo (CIPESP), da qual foi presidente e vice-presidente (entre 1972 e 1976). Isso sem contar presença constante em reuniões, jornadas, congressos, em sua maioria apresentando trabalhos.
“Entendemos que precisávamos agrupar conhecimentos sobre a cirurgia infantil, até ter uma sociedade que comandasse aquilo. Até que se fundou a CIPE. Eu sempre fui ligado à cirurgia infantil, e na CIPE sempre ocupei o cargo de secretário ou tesouraria. Lá a gente estudava os casos mais complicados, sempre levávamos casos fora do comum para discutir nas reuniões. Participávamos de reunião mensais na CIPE, e íamos a todos os congressos apresentando trabalhos, mesas de discussões e assistíamos a todas as apresentações enquanto nossas esposas, pois sempre nos acompanhavam, desfrutavam de passeios, tornando a convivência entre nós médicos como de uma família. Hoje, me sinto um médico realizado. Colaborei muito para a Cirurgia Infantil.”
Mas para o especialista, o maior feito ao longo dos seus 99 anos foi a sua família:
“Minha saudosa esposa Maria Ângela foi responsável por ter cuidado da família e da educação dos filhos, para que eu pudesse cuidar da minha amada profissão. Formamos uma grande e linda família. São 5 filhos, de um casamento de 60 anos: Eduardo, Fernando, Ricardo, Lúcia e Plínio (o Plininho, in memoria). Netos totalizam 8: Adriana, Juliana, Luana, Lucca, Nina, Leonardo, Fernanda e Gustavo. E 4 bisnetos: Beatriz, Arthur, Lucas e Matheus. Meus filhos foram para outras áreas, todos realizados profissionalmente. Agrônomo, zootecnista, piloto e quem mais se aproximou da Medicina foi a minha filha, que trabalhou como instrumentadora cirúrgica por anos, até se formar em Administração Hospitalar, e trabalhar no Hospital Universitário da USP.”
Especialista em Cirurgia Pediátrica, Membro da Academia Nacional de Cirurgia Pediátrica e Decano da Cirurgia Pediátrica são alguns dos títulos conquistados por este cirurgião, que trilhou um brilhante caminho nessa grande aventura de sua vida.
Para os colegas da CIPE, Dr. Plínio gostaria de finalizar com as seguintes palavras:
“Diria para os médicos da nova geração que busquem se humanizar, pois uma doença não afeta apenas o paciente, mas também a família. Um atendimento mais cauteloso pode ajudar na cura.”
A diretoria da CIPE aproveita para dar os parabéns ao Dr. Plínio pelos 99 anos de vida e agradecer a toda sua contribuição à nossa especialidade.