Conheça o Serviço de Cirurgia Pediátrica e Transplante Hepático do Instituto da Criança do HCFMUSP

A CIPE dá continuidade à série de reportagens sobre os serviços de Cirurgia Pediátrica espalhados pelo Brasil. Após apresentarmos o serviço da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e do Hospital Pequeno Príncipe (HPP), no Paraná, falaremos da Cirurgia Pediátrica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, considerado o maior complexo hospitalar da América Latina.
Agradecemos a colaboração da Dra. Ana Cristina Aoun Tannuri, Chefe do Serviço de Cirurgia Pediátrica e Transplante Hepático do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da FMUSP e Professora Associada da Disciplina de Cirurgia Pediátrica e Transplante Hepático da Faculdade de Medicina da USP.
O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP foi inaugurado, em 19 de abril de 1944. Possuía 1.047 leitos, distribuídos em 11 andares, com a sua estrutura sendo formada por Conselho de Administração, Superintendência, Divisão Médica, Divisão de Serviços Técnicos e Divisão Administrativa.
Hoje, são 2.000 leitos e 15 mil profissionais nas mais diversas áreas, que realizam anualmente mais de um milhão de consultas ambulatoriais, mais de 232 mil atendimentos de urgências e mais de 50 mil cirurgias.
Além de ter se tornado o maior complexo hospitalar da América Latina, o Hospital das Clinicas da USP foi citado no ranking The World’s Best Specialized Hospitals 2022, da revista norte-americana Newsweek, onde alcançou a 8º colocação da lista, dentre 2.200 hospitais distribuídos por 27 países, tendo ficado em 1º lugar entre as instituições públicas do Brasil.
O HCFMUSP já se consagrou como um centro de excelência no campo de ensino, pesquisa e assistência. Possui oito institutos, dois hospitais auxiliares, laboratórios de investigação médica, unidades especializadas, além das seguintes áreas de apoio: prédio da Administração e Anexos, Centro de Convenções Rebouças e Escola de Educação Permanente.
Um dos oito institutos é o Instituto Central (ICHC), inaugurado em 1944. Foi o primeiro prédio do Hospital das Clinicas a ser construído e abriga a maioria das especialidades de clínicas médicas e cirúrgicas. Foi lá onde começou a funcionar o Serviço de Cirurgia Pediátrica, na década de 50, como conta a Dra. Ana Tannuri:
“O Serviço surgiu na década de 50 como uma divisão da 3ª Clinica Cirúrgica do Hospital das Clínicas. Inicialmente, funcionava no Hospital das Cínicas, no Instituto Central, e depois, na década de 80, nos mudamos para o Instituto da Criança, que é um prédio do complexo do HC que atende crianças cirúrgicas e não cirúrgicas. Já a Disciplina de Cirurgia Pediátrica começou na década de 70. O 1º professor titular e precursor foi o Prof. Virgílio Carvalho Pinto. Entre os diversos profissionais que contribuíram para o crescimento do Serviço está o Professor João Gilberto Maksoud, que foi professor titular e o responsável pelo início do programa do transplante hepático pediátrico na nossa instituição e no Brasil, e o Prof. Uenis Tannuri, que, ao completar 75 anos, tornou-se Professor Emérito do Departamento de Pediatria da FMUSP. Ele, que é o meu pai, foi o chefe do Serviço de Cirurgia Pediátrica e Transplante Hepático do Instituto da Criança de 2009 até fevereiro deste ano, quando se aposentou. Também foi Chefe do Laboratório de Cirurgia Pediátrica da FMUSP, Professor Titular da Disciplina de Cirurgia Pediátrica e Transplante Hepático do Departamento de Pediatria e Presidente do Conselho Diretor do Instituto da Criança e do Adolescente do HCFMUSP.”
O Instituto da Criança do HCFMUSP conta com diversas unidades médicas especializadas no atendimento de crianças e adolescentes, dentre elas está o Centro de Cirurgia Pediátrica.
“O nosso Serviço congrega todas áreas de atuação do cirurgião pediátrico. Temos um Serviço muito grande de Neonatologia. Na nossa UTI Neonatal, nós temos em torno de 12 a 15 recém nascidos cirúrgicos internados, mais os recém nascidos cirúrgicos que ficam na UTI Neonatal anexa à Maternidade, que fica no outro prédio. Fora isso, nosso movimento de patologias neonatais é bem grande, inclusive, existe Serviço de Medicina Fetal no complexo. Então, a gente atende os casos internos que nascem lá e, além disso, recebemos os casos externos. Fazemos, também, muitas cirurgias oncológicas. Inclusive, temos um prédio separado só para casos oncológicos, que é um Serviço muito forte. Sendo assim, operamos um pouco de tudo: patologias torácicas, abdominais, videocirurgias, cirurgias bariátricas. E existe um movimento muito grande em cirurgia hepatobiliar e, em especial, no transplante hepático pediátrico, que hoje em dia é o maior centro de transplante hepático pediátrico do Brasil. Vale ressaltar, o grande volume de transplante entre vivos, que são feitos integralmente pela nossa equipe, inclusive, a cirurgia do doador é feita pela equipe da Cirurgia Pediátrica”, destaca Dra. Ana Tannuri.
Segundo Dra. Ana Tannuri, o Serviço é bastante amplo, com uma média de 140 a 150 cirurgias por mês:
“Somam de 150 a 200 atendimentos, por semana, no ambulatório, que é um serviço que recebe patologias do Brasil inteiro. Temos ambulatórios gerais e alguns específicos de crianças hepatopatas e do transplante de fígado. E ao mesmo tempo que atendemos crianças de alta complexidade, nos deparamos também com casos mais simples de cirurgias ambulatoriais, que são importantes para a formação de residentes, tanto de Cirurgia Geral quanto de Cirurgia Pediátrica. Sobre as patologias, ainda temos um serviço de reabilitação intestinal de crianças portadoras de intestino curto, que demandam de dois a três anos de internação, na maior parte dos casos.”
Vale ressaltar que o HCFMUSP recebe residentes de Portugal, da Alemanha e da Espanha, entre outros países. E eles ficam admirados com o movimento do Serviço de Cirurgia Pediátrica. Muitos chegaram a dizer que em um mês de estágio viram mais casos do que em quatro anos de residência na Europa.
“Nós temos um residente de Cirurgia Pediátrica por ano. Os residentes acabam trabalhando bastante. É uma residência puxada, porém eles fazem todas as cirurgias dentro do nosso Serviço. Operam de tudo. Diariamente, todos os residentes da especialidade fazem mais de uma cirurgia e nas cirurgias complexas eles são auxiliados pelos assistentes. Então, nossos residentes saem com mais de duas mil cirurgias realizadas ao final dos três anos e, além disso, os nossos residentes são responsáveis, integralmente, pelo cuidado das crianças cirúrgicas. Então, temos uma enfermaria com mais de 20 leitos e essas crianças, que estão internadas, são cuidadas integralmente pela equipe da Cirurgia. Dessa forma, não fazemos interconsulta, a gente cuida de forma integral, inclusive, daquelas crianças submetidas ao transplante hepático. Então, quem cuida da imunossupressão, do pós-operatório, somos nós e, em especial, os nossos residentes. Já no berçário, os recém nascidos, são cuidados pela equipe da Neonatologia e nós prestamos assistência do ponto de vista cirúrgico. Mas na nossa enfermaria, que tem as crianças maiores que internam para serem submetidas à cirurgias e as crianças transplantadas, fica tudo por conta do residentes. E nós temos duas visitas, na terças e sextas-feiras pela manhã, e a equipe inteira, coordenada e liderada pelo professor titular, vai em todas as visitas. A gente passa a visita em todas as crianças internadas na nossa enfermaria, nas UTI´s, e discute os casos um por um. É uma visita que demora de duas a três horas, mas é assim que definimos a linha de tratamento das nossas crianças, muitas sendo consideradas casos bem complexos”, ressalta Dra. Ana Tannuri.
A chefe do Serviço conta, ainda, que recebe alunos de Pós-Graduação e de Iniciação Cientifica. Afinal, são realizadas diversas pesquisas clínicas e experimentais, como ela explica:
“Do ponto de vista clínico, nós temos vários trabalhos, muitos deles relacionados ao transplante hepático e à patologias cirúrgicas importantes, como: atresia de esôfago, substituição esofágica, tumores da infância, casuística, e técnicas cirúrgicas diferentes. Existem trabalhos clínicos envolvendo tanto alunos da Pós, quanto de Graduação. Temos vários alunos de Iniciação Científica e trabalhos experimentais, como os modelos experimentais para o estudo das patologias mais relevantes da criança, com ênfase em modelos em ratos jovens, simulando as crianças, e também em porcos jovens. E dentro dos modelos suínos, eu ressalto os modelos que envolvem procedimentos cirúrgicos mais complexos, como transplante de fígado e de intestino.”
Também sobre as pesquisas realizadas, vale ressaltar o trabalho do Laboratório de Investigação Médica em Cirurgia Pediátrica (LIM-30), do qual fazem parte duas biólogas: Suelen Serafini e Josiane Gonçalves, responsáveis pelo desenvolvimento da pesquisa experimental do grupo da Dra Ana Tannuri.
Para ela, que é Professora Associada da Disciplina de Cirurgia Pediátrica e Transplante Hepático da Faculdade de Medicina da USP, além de Chefe do Serviço de Cirurgia Pediátrica e Transplante Hepático do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da FMUSP, o diferencial do trabalho, além de uma equipe de excelência, é saber que dispõe de toda uma estrutura única no país:
“Não existe isso em outros lugares. Pelo tamanho do serviço e pelo movimento. Nós temos um centro cirúrgico só nosso, composto de quatro salas. É um centro cirúrgico do Instituto da Criança. A gente coordena o movimento junto com a equipe da anestesia. Mas é difícil encontrarmos outro serviço no país que envolva tamanha complexidade. O transplante hepático é um diferencial, poucas equipes do Brasil fazem. Então, a nossa linha segue mais ou menos a grandeza do complexo e a importância do mesmo para Medicina do país e da América Latina.”
STAFF DO SERVIÇO:
Equipe:
Profa. Ana Cristina Aoun Tannuri
Prof Uenis Tannuri
Prof. Manoel Carlos Velhote
Dra. Maria Mercês dos Santos
Dr. Ali Ayoub
Dr. Marcos Marques da Silva
Dr. Nelson Elias Gibellli
Dr. Wagner de Castro Andrade
Dr. Fábio de Barros
Dr. Luiz Roberto Ricardi
Dra. Ana Caroline Dantas Marques
Dr. Guilherme Paganoti
Preceptor: Dr. Bruno Jorge Marinho
Fellow do transplante hepático: Isabela Gusson Santos
Residentes: Larissa Lima (R5) e Sarah Zolio (R4)
Laboratório de Investigação Médica em Cirurgia Pediátrica (LIM-30): Suelen Serafini e Josiane Gonçalves (Biólogas)