Cirurgia pioneira de separação de gêmeas siamesas com uso de modelo 3D é realizada em Goiânia (GO)
A 1ª cirurgia do mundo de separação de gêmeas conjugadas com utilização de modelo virtual de realidade aumentada foi realizada nesta terça-feira, dia 26, no Hospital Materno Infantil (HMI), em Goiânia.
O cirurgião pediátrico Dr. Zacharias Calil, responsável pelo procedimento, explica que o trabalho em equipe e o uso de alta tecnologia marcaram o sucesso da cirurgia das gêmeas de 1 ano e 5 meses, unidas pela bacia, parte intestinal, bexigas, ureteres e genitália.
“Tivemos a participação de profissionais da Ortopedia, da Cirurgia Plástica, da Cirurgia Pediátrica e em especial contamos com a Dra. Gisele Coelho (neurocirurgiã pediátrica de São Paulo) e o Dr. Mauricio Yoshida (cirurgião plástico especializado em cirurgia crânio facial), que disponibilizaram a sua técnica de biomodelo de realidade virtual aumentada. Então, foi feito um biomodelo do tamanho das meninas, um modelo físico híbrido, com imagens virtuais e todas as características reais das pacientes. Por exemplo, enquanto operava, de repente, ela jogava a imagem no celular e a gente era capaz de ver toda a estrutura óssea das meninas e de que maneira elas estavam unidas. Então, foi a 1ª vez que isso foi usado no mundo no tratamento e no pré-operário de separação de gêmeas siamesas. Ficamos impressionados. A tecnologia é muito importante, afinal, você já sabe o que vai fazer. Diminui o tempo cirúrgico e diminui o sangramento. Traz uma série de fatores positivos. É a inteligência artificial que a gente chama”, ressalta Dr. Zacharias Calil.
Também estiveram presentes o Dr. Hélio Buson, cirurgião pediátrico especializado cirurgias urológicas em crianças, de Brasília, e a Dra. Célia Britto, coordenadora do Serviço de Cirurgia Neonatal da Maternidade de Referência José Maria de Magalhães Netto, de Salvador.
“Dr. Hélio foi responsável pela parte de Urologia Pediátrica, que foi fundamental para que a gente pudesse fazer a divisão do sistema urinário, das bexigas e da genitália. Nós já tínhamos programado a cirurgia há quase um ano. Há dois meses, colocamos expansores de pele para garantir mais segurança, uma vez que a falta de pele é um problema no pós-operatório. Agora, após a separação, terão pele suficiente para cobrir a área da cirurgia. Com 17 horas de duração, foi uma cirurgia muito complexa pelo fato delas dividirem a parte intestinal, bexigas, ureteres, a genitália e a bacia. Separar todos os órgãos foi um desafio, assim como fazer a micro cirurgia dos ureteres. A parte óssea, já que elas estavam ligadas pela bacia, pelo osso ísquio, também exige muito dos médicos e das gêmeas isquiópagas. Nossa equipe contou com mais de 30 profissionais”, revela Dr. Zacharias Calil.
Esta foi a 20ª cirurgia de separação de gêmeas siamesas realizada pela equipe do Dr. Zacharias Calil. Segundo ele, representa um grande avanço para a Cirurgia Pediátrica brasileira.
“Em cada cirurgia desenvolvemos novas técnicas, equipamentos, tecnologias e inovações, como o biomodelo. Se tivermos oportunidade, será usado em outra cirurgia. O equipamento é muito caro, na faixa de 8 a 10 mil reais, cada, mas agora teremos a oportunidade de apresentar em congressos. Tudo em prol da Ciência e da Medicina. Considero um sucesso o que nós temos em Goiás, em separação de gêmeos siameses, afinal, temos a sobrevida de 50%, sendo que na literatura médica fala-se em 20%.”
O especialista revela que foram necessários quatro anestesistas, dois para cada uma das meninas, além de diversos equipamentos.
“Utilizamos a via de acesso por punção, guiada por ultrassom, colocamos o catéter de duplo lúmen, introduzimos o catéter também na artéria radial das duas para fazer a pressão arterial média durante a cirurgia, bem como gasometria, glicemia, hematócrito e hemoglobina. Também usamos a manta térmica com aquecedor de fluidos (um colchão para manter a temperatura ideal), além de vários monitores de última geração para observá-las durante todo o período de anestesia e pós-operatório. Dispomos de banco de sangue na sala, laboratório de engenharia técnica do hospital em todos os setores e equipamentos Drakko. Ainda usamos uma tela biológica para visualizar o abdômen embaixo da bacia, que custou 15 mil reais”, finaliza Dr. Calil.
As meninas foram encaminhadas para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital, onde estão sob acompanhamento da equipe de especialistas.